Themistocles Rosa (Tuta)

Tuta (Themistocles Rosa, 71 anos) é um artista de Ribeirão Pires que transforma correntes de ferro em esculturas expressivas, unindo técnica de soldagem desenvolvida desde a juventude com uma visão artística amadurecida na pandemia. Após décadas na indústria química e uma redescoberta de sua paixão pelo trabalho manual, Tuta passou a criar figuras humanas, instrumentos e ícones religiosos em sua oficina. Seu reconhecimento como artista surgiu a partir da percepção de que suas obras provocam diferentes interpretações e sentimentos, especialmente sobre liberdade e resistência. Hoje, ele expande sua produção com esculturas sob medida, buscando se firmar no mercado artístico.

Artista da região transforma técnica da juventude em arte

De Ribeirão Pires, Themistocles Rosa, 71 anos, conhecido como Tuta, cria estátuas em diferentes formatos utilizando a técnica de soldagem.

Por RENAN SOARES

Nem mesmo Themistocles Rosa, 71 anos, conhecido popularmente como Tuta, imaginava que suas criações em um pequeno galpão no bairro Centro Alto, em Ribeirão Pires, poderiam ser consideradas arte. Usando uma habilidade que desenvolveu aos 14 anos, o aposentado une elo por elo de peças de ferro para construir esculturas em diversos formatos, por meio da soldagem. Foi após uma conversa com uma prima — que apontou diferentes percepções sobre uma de suas obras — que Tuta, enfim, passou a se reconhecer como artista.

Aposentado há 26 anos, depois de dedicar quase metade da vida à indústria química, Tuta se viu sem rumo ao deixar o trabalho. Foi então que decidiu revisitar uma de suas principais habilidades da juventude: soldar. Ele conta que, para passar o tempo após a aposentadoria e sem acesso a equipamentos mais sofisticados, começou a soldar itens simples, como portões e móveis, para amigos e conhecidos. Com a chegada da pandemia, os trabalhos se intensificaram, já que ele passou a dedicar boa parte do dia ao pequeno espaço onde mantém sua oficina.

“Durante aqueles dois anos de pandemia, eu praticamente não saía de casa. Ficava sozinho e comecei a observar outras coisas”, lembra Tuta. “Percebi que tinha algumas correntes guardadas e comecei a soldá-las.” Segundo ele, as primeiras tentativas buscavam representar formas humanas, mas não ficaram como esperava. “Depois de um tempo, decidi fazer um corpo inteiro, com molde — e essa acabou sendo a minha primeira peça de verdade”, explica o artista, mostrando uma obra feita com centenas de elos interligados.

Nesse pequeno espaço, Tuta caminha entre as esculturas que criou ali mesmo. Moldadas peça por peça, há figuras como violões, corpos e cabeças humanas, além de representações religiosas, como a imagem de Nossa Senhora Aparecida.

Apesar da produção crescente, ele ainda não se via como um artista. Até que uma conversa com uma prima mudou sua visão sobre as próprias criações.

“Mostrei para ela uma obra feita com correntes, representando um corpo feminino. Ela me disse: ‘Você é um artista!’. Eu neguei, disse que não tinha nada a ver. Então ela compartilhou a visão dela: ‘Por que correntes? Por que mulher? Até hoje as mulheres são aprisionadas, e na sua obra elas estão se libertando’. Foi ali que percebi que minha arte podia ter diferentes interpretações”, relembra o ribeirão-pirense.

Hoje, Tuta busca se inserir de fato no mercado artístico, saindo dos moldes mais experimentais para atender encomendas de clientes, com esculturas sob medida.

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